Um dia, Um quarto

House: Vai basear toda a sua vida em com quem ficou presa num quarto?

Eve: Vou basear este momento em com quem estou presa em um quarto. É o que a vida é. É uma série de quartos. E com quem ficamos presos nesses quartos contribui para o que nossas vidas são.

O episódio mostra Eve, que chega na clínica por ter uma IST. Depois do resultado positivar, ela chora compulsivamente e logo o House entende. Ela foi estuprada. E dentro do processo de compreensão do que aconteceu com ela. Eve usa as emoções como mecanismo de defesa enquanto o House usa a intelectualização.

O que é melhor? Ser objetivo ou subjetivo sobre a dor?

A gente sai sem conclusão nenhuma. Cada um sai do quarto usando a forma como se sente mais confortável pra processar um trauma. Ela escolhe o House porque logo que ela chega na clínica vê que ele não vai fingir simpatia porque ele também está machucado de alguma forma. Então, todos aqueles clichês “ah, isso tem um motivo”; “tudo tem um propósito”; “você vai sair mais forte”; “se você falar, vai se curar” já são facilmente eliminados. Eve já sabia de todas essas coisas, ela estava ali procurando outro ponto de vista. House tinha um para oferecer.

Eve: Você acha que o cara que fez isso comigo se sente mal?

House: Isso vai te ajudar? Fazer você se sentir melhor?

Eve: Por que você sempre faz isso? Pergunta por que estou fazendo uma pergunta, em vez de apenas responder à pergunta.

House: A resposta não me interessa. Eu não me importo com o que ele está sentindo. Estou interessado no que você está sentindo.

Eve: Você está?

House: Estou preso em um quarto com você, certo?

Ela quer conexão, quer ir por um caminho subjetivo pra compreender a dor. Ele quer ir direto ao ponto pra “corrigir” o que está de errado. E ao longo do episódio, ele finalmente entende que não existe correção para o que fizeram com ela. Eve já tinha entendido isso desde o início.

Ela só precisava de tempo e confiança pra contar a história. E quando ela chega nesse ponto, ele está disposto a ouvir sem querer “corrigi-la”, o que para o House é uma demonstração de empatia. É um episódio muito bonito. Muito sensível.

Às vezes, tudo que uma pessoa precisa é que você esteja num quarto com ela, conversando, escutando.

Do ponto de vista do Eneagrama a gente vê o House em overdrive, super estimulado e completamente desconfortável porque ela quer falar de coisas pessoais dele. Enquanto ela não diz nada sobre ela. Pense que Cuddy (chefe do hospital), a psicóloga do Hospital, enfermeiras, todas tentaram fazer com que Eve contasse sua história, mas ela não queria contar para elas. Ela queria contar para House. Ela basicamente obriga House a ficar “no quarto” metafórico com ela. A meta de House era descobrir o que aconteceu. E ele passa boa parte do episódio fazendo do jeito dele, até entender que não é assim que vai conseguir. E aceita o jeito dela. O que é exatamente o contrário do M.O do House que quer sempre saber tudo do outro sem revelar nada de si.

House: Você entende? Você está bem? Eu sei que você não está bem. Você está mais ou menos bem do que estava cinco minutos atrás?

Eve: Quase o mesmo.

A gente entende até a motivação do House de corrigir, de desvendar mistérios mirabolantes, porque ele só funciona dessa maneira e porque ele preserva TANTO tudo o que ele tem. O pensamento de escassez do 5.

E ele é encarado por alguém que PRECISA que ele abra mão dessa reserva de energia, de tempo, de emoções, de tudo. E isso o apavora. “Se eu entregar o que tenho, fico sem.” Sem saber a abundância de recursos que tem para oferecer.

Uma obra de arte. Episódio 12 da terceira temporada, One Day, One Room.

House: Esse é o tipo de conversa que eu faço bem.

Eve: Mas o outro tipo? As coisas pessoais?

House: Não há respostas. Se não há respostas, por que falar sobre isso?

Ana Gabriela

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Voltar ao topo