Me perguntam quem eu sou
me pedem para contar minha verdade
mas eles não param para me escutar
para entender
para me compreender.
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Eles querem apenas saber.
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Sabendo é mais fácil
criar uma narrativa que não me representa
e usá-la como verdade absoluta
sem concessão de defesa
perante o juri.
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Mas eu sei quem sou
sei minha verdade
conheço também a narrativa que escrevem de mim
e por conhecê-la tenho capacidade de mostrar
sem artificios e manipulações
o que é real e o que não é.
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Podem falar
usar da criatividade para inventar
mas sabemos que as consequências
chegarão para mim e para você.
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Não existe história única
existe quem conta a história
existe quem as escuta e decide
o que considera sincero
o que leva como verdade
não só do que escuta, mas do que vê.
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Não existe história única,
mas existe a história incompleta.
[…] Então, é assim que se cria uma única história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que ele se tornará. É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é “nkali”. É um substantivo que livremente se traduz: “ser maior do que o outro”. (…) Como é contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história, e começar com “em segundo lugar”. […] A “única história cria estereótipos”. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história.
chimamanda ngozi adichie – o perigo da história única